Durante visita à obra, reportagem encontrou operários
trabalhando para finalizar a construção do complexo prisional. Holofotes
voltaram à obra após delações de executivos da Odebrecht, que apontaram
captação irregular de dinheiro a pedido do ex-governador Eduardo Campos.
Por G1
PE
Reportagem mostra obras no presídio de Itaquitinga, citado nas delações da Odebrecht
Apesar de as
obras do presídio de Itaquitinga, na Mata Norte de Pernambuco, terem ficado
paradas por cinco anos, duas delações de executivos da Odebrecht que apontam
irregularidades na construção do Centro Integrado de Ressocialização trouxeram
o empreendimento novamente à tona nesta última semana. Fechadas após a saída do
consórcio Advance-Socializa, as unidades do presídio passam atualmente por uma
transição – do abandono à retomada da construção, visitada pela equipe da TV Globo. (Veja vídeo acima)
Previsto para
ser o maior complexo prisional do estado, com capacidade para abrigar 3,5 mil
presos, o complexo prisional de Itaquitinga deveria ter a construção iniciada
em outubro de 2009, com prazo de três anos para a conclusão. No entanto, os
trabalhos só iniciaram em junho de 2010 e, em 2012, com a saída do consórcio,
as obras estacionaram.
À época, a obra
seria a primeira obra do sistema
penitenciário de Pernambuco construída através de uma parceria público-privada
(PPP). Dos R$ 350 milhões previstos pelo orçamento, 70% seriam
fruto de investimentos da iniciativa privada e outros 30% seriam investidos
pelo governo do estado.
A reportagem
teve acesso à parte interna do presídio de Itaquitinga nesta semana e constatou
que, atualmente, há 120 funcionários de uma nova empreiteira trabalhando desde
o mês de janeiro de 2017 para finalizar as obras já iniciadas. Com um orçamento
de R$ 10 milhões, a Carajás se comprometeu a concluir a unidade um, para presos
do regime fechado, a portaria, o alojamento da Polícia Militar, o canil e o
módulo de serviços, que inclui a cozinha e a lavanderia.
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Funcionários da construtora Carajás começaram a trabalhar na obra em janeiro de 2017 (Foto: Reprodução/TV Globo) |
Segundo os
técnicos que acompanharam a visita da reportagem ao presídio, o espaço ficará
igual à unidade dois, que deve ser licitada no segundo semestre. Ao todo, serão
três pavilhões iguais, com quartos para visita íntima, parlatórios para os
presos falarem com os advogados, refeitório, salas de aula e duas celas para
pessoas com deficiências.
Durante a
passagem pela unidade prisional, as questões que constam no relatório do
governo e que resultaram em caducidade ficam evidentes. Luminárias de alumínio
inadequadas por serem desmontáveis e facilmente transformadas em armas, piso
com fissuras e prateleiras de concreto sem uso se soltando das celas são
algumas das irregularidades encontradas.
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Paredes de gesso, de espessura reduzida, serão utilizadas na área administrativa do presídio de Itaquitinga (Foto: Reprodução/TV Globo) |
Por outro lado,
as polêmicas paredes de gesso da unidade, segundo o governo do Estado, eram
previstas para serem construídas com esse material desde a elaboração do
projeto, já que o ‘dry-wall’ seria utilizado na construção de áreas
administrativas, às quais os presos não teriam acesso.
A contenção dos
detentos ficará por conta de três fileiras de alambrados, já que o presídio não
terá muros. Haverá, também, cachorros que ficarão entre as fileiras para evitar
a saída indevida dos presos. Por isso, as obras atualmente executadas também
preveem a troca dos alambrados instalados inicialmente no local, já que o
projeto previa 3,4 milímetros de espessura e os deixados na primeira fase da
construção tinham espessura de 1,2 milímetro.
Prazos
De acordo com o
procurador geral do estado, César Caúla, o primeiro módulo do presídio será
concluído e estará pronto para utilização no segundo semestre de 2017, assim
como a área administrativa. Uma nova licitação para concluir o segundo módulo
será encaminhada para publicação no mês de maio. “O investimento será de cerca
de R$ 14 milhões, então estimamos que em oito meses esse segundo módulo também
possa funcionar”, afirma.
Delação
De acordo com
os relatos de Marcelo Bahia Odebrecht, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis
e Benedicto Júnior, registrados na petição 6.706, o ex-governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, solicitou apoio à Odebrecht em 2012 para
auxiliar na construção do Centro Integrado de Ressocialização (CIR). Apesar de
não haver interesse por parte da Odebrecht para participar da licitação e
ingressar na obra, a empreiteira entrou no projeto através da DAG Construtora.
Na prática,
foram aproximadamente quatro meses no canteiro de obras. Durante esse período,
a DAG chegou a fazer uma limpeza na área e, segundo Marcelo Odebrecht, a
empresa precisou sair devido a problemas ‘escabrosos’.
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Até janeiro de 2016, Centro Integrado de Ressocialização, em Itaquitinga, estava com obras paralisadas há cinco anos (Foto: Reprodução/TV Globo) |
“Quando a DAG entrou, o que a gente pensou que
era um problema só na obra, era algo bem pior. Na verdade, tinham coisas
escabrosas. A concessão tinha pego um empréstimo do Banco do Nordeste e um mês
depois tinha distribuído esse empréstimo como dividendos. Quando a gente viu,
já tinha gasto uns R$ 50 milhões nesse processo. Quanto mais dinheiro, maior
era o buraco. Chegou o momento em que a gente disse ‘não tem jeito, Eduardo,
não tem jeito’”, relata o delator.
Com a morte de
Campos, em agosto de 2014, o assunto foi encerrado dentro da Odebrecht, mas, no
governo de Pernambuco, o presídio ainda permaneceu em pauta. “Logo que o
governador Paulo Câmara assumiu, em janeiro de 2015, ele decretou a intervenção
no equipamento, o que permitiu a realização de verificações no local. Nesse
momento, houve a apuração de tudo que tinha sido efetivamente feito no contrato
e as causas da paralisação da obra. Ao cabo disso, foi decretada a caducidade,
o que permitiu que o estado retomasse plenamente a disponibilidade do imóvel
que sempre foi dele”, explica o procurador geral do estado, César Caúla.
Respostas
A empresa
Advance Construções e Participações, uma das duas que participaram do consórcio
para a construção do presídio, disse que não descumpriu o contrato. Garantiu
que concluiu 85% das obras. E só não fez o restante porque o governo de
Pernambuco não teria oferecido a infraestrutura prometida, o que gerou um
desequilíbrio no contrato.
A Socializa
Empreendimentos, que também fazia parte do consórcio, não respondeu ao pedido
de informações da reportagem. A DAG Engenharia também não enviou resposta
depois de contato da produção da TV Globo.
O PSB, partido
do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, informou, em nota, que confia
na inocência dos filiados mencionados na lista do ministro Edson Fachin e que
vai atuar em todas as instâncias para defende o nome e a honra de Eduardo
Campos.
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